segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Para refletir...

O texto “A liberdade de ver os outros”, é de David Foster Wallace, que se suicidou no mês passado, aos 46 anos. O artigo foi tirado de seu discurso de paraninfo para formandos do Kenyon College. Abaixo, copio e colo um trecho:
“(…) A única coisa verdadeira, com V maiúsculo, é que vocês precisam decidir conscientemente o que na vida tem significado e o que não tem.Na trincheira do dia-a-dia, não há lugar para o ateísmo. Não existe algo como ‘não venerar’. Todo mundo venera. A única opção que temos é decidir o que venerar. E o motivo para escolhermos algum tipo de Deus ou ente espiritual para venerar – seja Jesus Cristo, Alá ou Jeová, ou algum conjunto inviolável de princípios éticos – é que todo outro objeto de veneração te engolirá vivo.
Quem venerar o dinheiro e extrair dos bens materiais o sentido de sua vida nunca achará que tem o suficiente. Aquele que venerar, seu próprio corpo e beleza, e o fato de ser sexy, sempre se sentirá feio e quando o tempo e a idade começarem a se manifestar, morrerá um milhão de mortes antes de ser efetivamente enterrado.No fundo, sabemos de tudo isso, que está no coração de mitos, provérbios, clichês, epigramas e parábolas.
Ao venerar o poder, você se sentirá fraco e amedrontado, e precisará de ainda mais poder sobre os outros para afastar o medo. Venerando o intelecto, sendo visto como inteligente, acabará se sentindo burro, um farsante na iminência de ser desmascarado. E assim por diante.
O insidioso dessas formas de veneração não está em serem pecaminosas – e sim em serem inconscientes. São o tipo de veneração em direção à qual você vai se acomodando quase que por gravidade, dia após dia. Você se torna mais seletivo em relação ao que quer ver, ao que valorizar, sem ter plena consciência de que está fazendo uma escolha.
O mundo jamais o desencorajará de operar na configuração padrão, porque o mundo dos homens, do dinheiro e do poder segue sua marcha alimentado pelo medo, pelo desprezo e pela veneração que cada um faz de si mesmo. (…)”.

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