segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Medíocres X Inovadores

“No ambiente de trabalho, assim como na vida comum, a mediocridade é maioria: a maior parte das pessoas não arrisca, não inova, não se compromete, se preocupa o tempo todo em armar-se em sua própria defesa, e nunca se expõe. Passa o tempo atirando pedras sobre aquelas que inovam, que arriscam, que se expõem. Para sorte dos medíocres, os inovadores correm riscos. Às vezes esses riscos se transformam em perda, os inovadores se vão, e os medíocres ficam.

A mediocridade é, também, muito conveniente: não questiona, não ameaça, não põe à prova. Convive facilmente com qualquer situação, e participa de qualquer jogo de poder. Por isso, as pessoas ficam. E ficam também porque sabem que, se forem embora, não vão mais conseguir uma situação semelhante.

A mediocridade está presente em todos os níveis de cada sociedade ou organização. Mantém presença intensa mesmo onde a criatividade e a inovação são elementos básicos, como, por exemplo, nas artes.

Na verdade, ser medíocre é o mais fácil. Como o mato, que cresce onde nada mais nobre foi plantado. E, uma vez crescido, impede o nascimento de qualquer outra coisa. Precisa ser removido por um trabalho externo, para dar lugar a plantação mais produtiva. Com as pessoas não é diferente, mas esse trabalho externo, de remoção, é muito penoso, combatido, porque a mediocridade, ao contrário do mato, reage. E reage a seu modo, trançando teias de amarração por debaixo do pano, minando as ações, lançando pequenas armadilhas, criando obstáculos, e tudo muito nebuloso, pardacento, para que não tenha que ser assumido. E acaba dando certo, porque é pouco freqüente que haja vontade política suficiente para fazer essas remoções a qualquer custo. Eis porque a mediocridade vence. Não é uma vitória justa, bonita. Mas é real, na prática.

Percorra-se todas as empresas comerciais, de serviços, industriais, artísticas etc., e na grande maioria se vai encontrar a mesma situação: a mediocridade implantada, entrincheirada, e histórias sobre profissionais que tentaram isso ou aquilo, e passaram. E não faltará um sorriso irônico na boca de um ou outro medíocre, como a dizer “nós é que sabemos o que é bom ou ruim para esta empresa”. São esses que iniciam a imediata destruição de tudo o que os inovadores fizeram, tão logo conseguem afastá-los de seus territórios. As exceções são empresas em que a inovação encontrou espaço próprio, domesticou a mediocridade, e a utiliza onde não pode ser daninha. Essas empresas são, invariavelmente, bem-sucedidas, e se caracterizam também por não fazer alarde disso.

Medíocres e inovadores são como água e azeite: nunca se misturam. Mas, diferentemente desses dois elementos, não se ignoram: os inovadores se obrigam a sempre incluir a preocupação com os atos dos medíocres em seus planos de ação, e os medíocres estão sempre atentos aos passos dos inovadores para encontrar a chance de colocar cascas de bananas no caminho. Medíocres se aliam a medíocres, e inovadores a inovadores. As ligações dos medíocres, entretanto, são mais perigosas, porque são baseadas em ameaças veladas, do tipo “fica comigo porque senão jogo cascas no seu caminho também”. Para um medíocre, uma casca representa um risco maior do que para um inovador, porque não tem energia para se levantar e prosseguir sem dano moral.

O preço que o medíocre paga é nunca se destacar positivamente. Isso não chega a ser um problema, porque o medíocre não quer ser destaque. Ao contrário, quanto menos notado, melhor. Às vezes, acontece o acidente inverso: o medíocre é pilhado sendo medíocre onde seria necessário inovar. Aí é um vexame, mas acontece pouco e não chega a afetar a maioria.

Não há nenhuma categoria intermediária entre inovadores e medíocres: ou se é inovador, ou se é medíocre. Dentro desses dois grupos existe a divisão em grupos com diferentes graus de honestidade, energia, carisma, inteligência etc., mas permanecem as atitudes básicas.

Não é só em nosso país que existe essa realidade, mas também no dito Primeiro Mundo. Variam as razões de disputa, e os cacifes dos envolvidos, mas as situações se repetem. E, como somos dependentes econômicos de um sem-número de multinacionais, importamos mediocridade também. Recebemos dirigentes, funcionários e decisões tão medíocres que levamos algum tempo para acreditar que é aquilo mesmo, e que não há nada mais a entender.

Qual o destino dos inovadores? Em geral, num primeiro momento, a marginalidade profissional. Depois, os que tiverem sorte acabam encontrando um nicho de trabalho onde a mediocridade está controlada. Outros, com tenacidade, iniciam nichos desse tipo. O restante permanece na marginalidade, ou se bandeia para atuar disfarçado dentro da mediocridade. Essa realidade é perversa, mas é realidade, e é necessário conviver com ela. Inovadores do mundo, uni-vos! Os medíocres não sabem, mas já estão automaticamente unidos pela própria mediocridade. Cabe aos inovadores realizar esforços para mudar essa condição. Este artigo irá provavelmente trazer algum estímulo aos inovadores. Quanto aos medíocres, não irão se ver neste espelho. Mais ainda, irão considerar o artigo vago e inconsistente: “Não sei do que o autor está falando”.

(Roldo Goi Júnior, engenheiro mecânico, em artigo publicado no caderno Empresas de O Estado de S. Paulo em 19/8/1994, via coleção do escritor Renato Modernell).

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